segunda-feira, 16 de abril de 2012

Carta aberta à LODUCCA e PEUGEOT


Gostaria de saber escrever bem, ainda assim vou tentar pôr em palavras a revolta e indignação que o comercial da “Promoção Escolha Fácil PEUGEOT” provoca em mim.

Em 1976, Gerson, o "Canhotinha de Ouro", campeão do mundo em 1970 protagonizava a propaganda de cigarro Vila Rica, criada pela Caio Domingues & Associados, dirigida por José Monserrat Filho, cujo texto dizia: "Por que pagar mais caro se o Vila me dá tudo aquilo que eu quero de um bom cigarro? Gosto de levar vantagem em tudo, certo? Leve vantagem você também, leve Vila Rica!" Isso virou bordão recorrente entre a população que, se justo ou não, ficou conhecido por “Lei de Gerson”.

Não sei por quanto tempo tal comercial foi veiculado, o fato é que “o levar vantagem em tudo” ficou associado a atitudes pouco éticas e morais, como pouco importando o modo de se alcançar um objetivo, desde que este seja alcançado.

Quero acreditar que não era intenção da agência, ao criar tal comercial, incentivar a vil cultura da mesquinharia.

O que isso tudo tem a ver com o filme comercial da “Promoção escolha fácil Peugeot”? É que ao assisti-lo, fui remetida ao filme lá de 1976, ou à “Lei do levar vantagem em tudo”, e se depender das agencias de Propaganda e Marketing, pelo menos da LODUCCA, dificilmente isso será mudado, pelo contrário será mais arraigada ainda.

Nesse comercial, um entusiasmado e “inocente” estagiário chega a dois colegas de serviço perguntando se pode ajudar, um deles incumbe-o de abrir a porta da concessionária e dar bom dia aos “clientes”. Estes, afoitos com a promoção, simplesmente pisoteiam o rapaz... O mesmo que deu tal ordem, caçoa dizendo em tom jocoso: “estagiário”. Ao final do filme, os dois colegas de cócoras ao lado do estagiário estendido no chão, gemendo, estão simplesmente preocupados com o almoço, pois o que ditou as ordens ao pobre olha para o outro colega e o convida a ir almoçar.

Este triste filme me remete a algumas reflexões, a saber:

·         Para o homem que dá a ordem, se ele não for o chefe, o poder em sua mão é um perigo, pois se mostra um perfeito tirano.

·         O cliente Peugeot pode até ter dinheiro, mas não tem classe alguma, pois se mostra extremamente mal educado e adepto à “Lei de levar vantagem em tudo”, afinal entrar numa loja daquela maneira é típico de gente que não tem um pingo de educação e não está nem aí para com o próximo.

·         Uma gama enorme de trabalhadores, dentre eles estudantes e estagiários, dificilmente tem poder aquisitivo para comprar um carro seja ele qual for, menos ainda um Peugeot, mesmo numa promoção “tão maravilhosa”, mas essa condição não lhes tira a dignidade e o direito ao respeito.

·         Independentemente da função que um cidadão ocupe dentro da sociedade, se estagiário, gari, professor, médico, jurista, vereador, deputado estadual, federal, senador, prefeito, governador ou presidente da república, não é o seu salário que determina sua honradez e honestidade.

·         Para essa empresa o valor ao ser humano está atrelado à conta bancária, se esta for alta, o indivíduo é bem tratado, caso contrário, que seja esmagado.

Ao pesquisar sobre quem responde pela conta da Peugeot, achei este site: http://www.grupoabc.com/pt/empresas-do-grupo/loducca/, nele está esse texto: “Criada em julho de 1995, a LODUCCA é hoje uma das 20 maiores agências de publicidade do País. Formada por um grupo de pessoas apaixonadas, que combinam experiência, talento e energia para ajudar seus clientes a se relacionar com os consumidores, a LODUCCA é uma agência para quem quer um olhar novo, dinâmico, profundo e diferente para seus negócios e marcas. Presidida por Celso Loducca, a agência ainda tem como sócios e vice-presidentes os profissionais Guga Ketzer, Daniel Chalfon, André Paes de Barros e Ken Fujioka, além do Grupo abc, o 19º maior grupo de comunicação de marketing do mundo, segundo o ranking anual Advertising Age. Entre seus clientes estão Ambev, Bayer Schering Pharma, Bridgestone, BRMalls, Cia. Muller, Epson, FOX, GVT, ibi, Leroy Merlin, Mabel, MTV, Nextel, Peugeot e Red Bull.”

Mesmo não tendo sido solicitada, presto aqui uma Consultoria Básica (e gratuita, infelizmente, diga-se de passagem, afinal não receberei um centavo ao menos por esta dica valiosíssima! Já que a Loducca ganha milhões para fazer o que faz e a Peugeot a pagou maravilhosamente bem para fazer o que fez).

Primeiramente à LODUCCA:

Atenção: esse grupo de pessoas apaixonadas do Loducca precisa rever o conceito de ajuda de relacionamento dos clientes com seus consumidores urgentemente, ou então está faltando algo na combinação da experiência, talento e energia, pois para quem quer um olhar novo, dinâmico, profundo e diferente para seus negócios e marcas, um filme como esse feito para a promoção da Peugeot, a mim pelo menos, remete-me à desumanidade do tempo da barbárie. É um completo desserviço à tentativa de se criar uma nação mais equitativa, educada e que luta contra o bullying.

Acredito que vocês deveriam ler: “Homens Invisíveis – Relato de uma humilhação social” - Editora Globo - de Fernando Braga da Costa.

Para a Peugeot:

Tudo bem que vocês saibam e queiram trabalhar com apenas um seguimento da sociedade, mas levem em conta que o estagiário de hoje, ridicularizado em seu filme comercial, é um consumidor em potencial amanhã, além de o sentimento de solidariedade se estender por toda uma gama de profissionais que se sentem no mesmo patamar daquele cidadão e esse filme está tendo uma péssima repercussão. A dica de leitura tem a mesma valia.

No caso do comercial estrelado por Gerson, ele sentiu isso não tão imediatamente, mas no caso de vocês a internet está dando o retorno imediato para ser corrigida a mensagem e imagem a fixar no consciente social.
Só mais uma coisinha: somos classificados como animais sim, mas temos um diferencial: a racionalidade. Esse diferencial nos faz saber que para vivermos em sociedade devemos respeitar o próximo como queremos ser respeitados, somente a partir dessa conscientização poderemos nos intitular Ecologicamente Corretos.
Está aí a dica.



Roberta T. Martins

Iguape, 15 de abril de 2012.

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